O Mágico de Oz e a economia norte-americana do século XIX

>> sexta-feira, 2 de março de 2012

Através desse espaço iremos apresentar curiosidades relacionadas a essa abrangente e intrigante ciência que é a economia. Fatos históricos, recentes, sociais, culturais, entre outros que de tão curiosos nem poderíamos imaginar ou que mesmo depois de ouvir ainda assim pareceria irreal. Dessa forma, além de aprendermos um pouco mais iremos inevitavelmente entretermos em alguns minutos de leitura.

Começamos por uma curiosidade que talvez alguns estudantes de economia, leitores de Mankiw, conheçam. Sempre temos aquelas obras literárias, filmes ou qualquer outro meio de entretenimento que vimos em algum momento do passado e que nos marcou ou que pelo menos nos divertiu bastante em certa época. O que acontece é que vez ou outra esses livros e filmes, que nos podem parecer tão infantis, ou ingênuos, na verdade contêm em si uma inspiração ou referência a fatos reais ou ideologias que nem sempre percebemos, a não ser talvez no nosso subconsciente.

A “Revolução dos bichos” de George Orwell é uma alegoria ao processo revolucionário da União Soviética, porém esse é obviamente o sentido do livro. Em outros casos a inspiração ou a referência fica tão implícita na história que nem sempre conseguimos perceber. Você sabia, por exemplo, que a trilogia Matrix tem uma forte influência da filosofia de Descartes e Platão? Os jogos de lógica de Alice No País das Maravilhas escrito pelo matemático e lógico Lewis Carroll. A temática cristã de Crônicas de Nárnia, do apologeta cristão, C.S. Lewis . Enfim são vários casos interessantes, mas o que nos interessa aqui é a relação do livro “O Mágico de OZ” com a situação econômica dos EUA na segunda metade do século XIX.

História do livro: Dorothy é uma doce e meiga menina que vive em uma fazenda no Kansas, onde após um tornado na região vai parar junto com seu cachorro e sua casa no fantástico mundo de OZ. Acidentalmente sua casa cai em cima da bruxa má do leste despertando a fúria de sua irmã, a bruxa má do oeste. Com a ajuda da bruxa boa do norte ela ganha os sapatos de prata da bruxa do leste (que no filme de 1939 é substituído por sapatos de rubi, que acabaram ficando famosos) cobiçados por sua irmã malvada. Desejando retornar para sua vida no Kansas, Dorothy deve partir para o leste seguindo a estrada de tijolos amarelos para encontrar o Mágico de Oz, que pode lhe ajudar. Nessa jornada ela encontra um espantalho que quer ter um cérebro, o homem de lata que deseja um coração e o leão que queria ter coragem. Assim partem todos juntos em busca do mágico.

Situação econômica dos EUA no final do século XIX: com o recente desbravamento do oeste americano os fazendeiros da região estavam endividados com os banqueiros do leste. Soma-se a isso o avanço tecnológico da época que encareceu a produção e ocasionou a queda do nível de preços pelo aumento da oferta. Assim os fazendeiros começaram a apoiar a ideologia política de mudar os EUA do sistema padrão-ouro (defendido pelos banqueiros do leste) para o sistema padrão bi-metal (ouro e prata), pois na época a quantidade de dinheiro correspondia ao volume de ouro que o país possuía, e com a mudança aumentariam a moeda em circulação e forçariam o aumento dos preços. Um dos políticos que defendia a mudança era o senador Willian Jennings Bryant.

Com esse cenário formado, o jornalista L. Frank Baum escreveu o Mágico de OZ como uma metáfora a toda essa situação onde defende a posição dos fazendeiros do oeste: Dorothy representa os valores americanos tradicionais; o espantalho representa os agricultores; o homem de lata os trabalhadores da indústria; o leão covarde é Willian Jennings Bryant; OZ é a abreviação da palavra inglesa ounce (onças de ouro) e o mágico de OZ representa os banqueiros do leste. Com os sapatos de prata da história original Dorothy vai seguindo a estrada de tijolos amarelos (ouro) para completar sua jornada (prata pisando sobre o ouro). Ao final, ela e seus novos amigos descobrem que o mágico de OZ é uma fraude, ou seja, o sistema padrão ouro é uma fraude. O espantalho ganha um cérebro, o homem de lata ganha coração e não irá mais enferrujar (não haverá desemprego), o leão ganha coragem (incentivo a Willian Jennings que não tinha muita força) e Dorothy volta para casa graças aos seus sapatos de prata.

Como se sabe, no final do embate resultou que os banqueiros do leste ganharam a briga permanecendo o padrão-ouro. Porém a história permaneceu até se tornar o filme em 1939 que inclusive já foi considerado um dos 10 melhores filmes já feitos. Alguns estudiosos defendem que “O Mágico de OZ“ é um simples livro infantil, mas é difícil admitir que essa visão não faça sentido. De qualquer forma é um caso realmente interessante, e que inclusive nos abre até mais uma perspectiva a nós, futuros economistas: quem sabe um dia não podemos usar o nosso conhecimento sobre economia e fazer uma análise diferente e inusitada da atualidade assim como fez L. Frank Baum?


Erick Rodrigo da Mota
Graduando em  Ciências Econômicas
Universidade Federal de Goiás

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